Colunistas: Gabriel Alves, Laís Fernandes e Kelvys Louzeiro
17 de novembro de 1947, no Piauí, o período chuvoso havia começado, as chuvas vinham e iam com muita constância. Contudo, no dia 17, choveu demasiadamente fora do padrão.
A família de Manoel e (Neca) Sebastiana da Cunha Louzeiro residiam no Sítio Passagem da Porteira, localidade Riacho Grande, Corrente – PI. A família era composta pelo casal Manoel e Sebastiana, grávida de 9 meses, e, 7 (sete) filhos.
Esta família era mais uma daqueles sertões que viviam da plantação e criação de animais. Casados desde a década de 1920, o casal construiu sua residência próximo ao Riacho Grande, porém, desde aqueles idos de 1928 um dos irmãos de Neca, Veríssimo, já alertava para o perigo que o Riacho representava.
A residência da família, representava a típica casa nordestina da zona rural, feita de adobe (tijolo cru), telhas, chão de barro batido, portas e janelas de aroeira, internamente dividida em sala, quartos, e cozinha separada da casa grande.
Passados quase 20 anos desde a construção da sua residência, Manoel e Sebastiana haviam prosperado tanto no número de filhos quanto em bens, além do plantio de feijão, milho, arroz e mandioca para produção de tapioca e farinha que, em regra, ia para o sustento da família, Neca, vendia o excedente para os garimpeiros, em Gilbués.
O comércio possibilitou o aumento do número de cabeças de gado, ovelhas, bodes, porcos e galinhas. O casal também havia reformado a casa de oficina, a prensa de fazer massa e a bolandeira, o curral era novinho, tudo próximo a residência.
Porém, no dia 17 de novembro de 1947, àquela família seria devastada. Conforme relata Luiz Gonzaga Louzeiro (Nôzinho) à época com 18 anos, residente no Riacho Grande e sobrinho do casal, o dia 17 foi um dia chuvoso, típico de “inverno bom”. Porém, a partir de umas 17 horas foram “baixando umas nuvens na serra”, e, a chuva começou a se intensificar.
À família de Neca estava reunida, com a chuva se intensificando, todos foram dormir. Entretanto, 23 horas da noite, o casal Neca e Sebastiana acordam, levantam e percebem que a casa estava alagada.
Porém, naquele instante, eles acreditavam que, a chuva estava tão forte que as águas do terreiro não estavam sendo evacuadas. Contudo, logo percebem que, o volume de água estava aumentando, nesse instante eles compreendem que o Riacho havia invadido a casa.
A eletricidade inexistia nesses sertões, portanto, se usava candieiros e tiradas com óleo de mamona, o que por certo não se dão bem com água. A família em desespero saiu da casa objetivando se salvar.
Aqui vale dar detalhes do local da casa. A residência da família de Manoel e Sebastiana havia sido construída numa curva do Riacho que se situava sob todos os pontos a cerca de 120 metros da casa.
Com o grande volume de chuvas, naquele trecho o Riacho deixou de correr pelo canal, fazendo um “atalho” e ilhando a residência da família. Porém, não levantando essa possibilidade e em total desespero pela situação, a família correu para o lado do atalho feito pelo Riacho.
A tragédia se concretizou. A enchente de maneira feroz e sem piedade derrubou e levou a família. Foi-se Neca agarrado a um filho, Sebastiana, grávida de 9 meses, e mais 4 filhos.
Conforme Nelson Silva Louzeiro, neto de Neca e Sebastiana, e Luiz Gonzaga (Nôzinho), duas filhas do casal, se agarraram as árvores, uma com 21 anos se agarrou a uma Moreira e outra com 10 anos se fiou a um pé de mamão.
A chuva incessante fazia com que as águas subissem e ficassem a cada instante mais ferozes. Na madrugada a chuva cessou, e ao amanhecer os vizinhos perceberam a tragédia.
A casa, curral com gado, porcos, ovelhas e bodes, galinhas tudo havia sido levado pelas águas. De pronto, iniciou-se as buscas pelas pessoas, duas irmãs foram retiradas das árvores e levadas para casas de parentes.
Os outros integrantes da família estavam desaparecidos, contudo, logo após resgatarem às irmãs; Manoel e um filho foram encontrados. As águas haviam levado os dois, Manoel agarrado ao seu filho foi jogado de um lado para o outro, até encontrar um tronco enganchado. O esforço hercúleo não foi por si, mas por seu filho, com esforço conseguiu saí das águas, ficando em um lugar seguro até o dia clarear.
Um fio de esperança acendeu em todos, conforme narra Luiz Gonzaga (Nôzinho) que participou ativamente das buscas, vários homens e mulheres desceram pelas margens do Riacho Grande a procura de corpos ou sobreviventes, a noticia se espalhou por toda região.
Mas não tardaria para que os primeiros corpos fossem encontrados, na manhã do dia 18, Sebastiana e um dos filhos, foram localizados, mortos a beira do Riacho a poucos quilômetros de onde fora suas residências. Esses corpos foram trazidos e logo sepultados. A busca continuava, pois havia mais três filhos desaparecidos. No fim da tarde do dia 18, mais dois corpos foram encontrados e logo sepultados.
A tragédia não tinha fim. E não teve fim pelos próximos 5 dias, posto que, um dos filhos de Manoel e Sebastiana não fora localizado, a área as margens do Riacho Grande foi varrida mas o corpo continuava desaparecido. A família começava a se conformar em não dar um enterro digno.
Porém, no quinto dia após a tragédia, uma criança brincava as margens do riacho a 5 quilômetros da residência da família de Neca e Sebastiana, quando observou um Gavião bicar alguma coisa. Curioso, se dirigiu ao local, quando viu uma mão humana.
A noticia foi de pronto enviada para Manoel que, junto com parentes se dirigiram ao local, cavando as areias do Riacho, localizaram a última vítima da tragédia. Foi levado e sepultado ao lado dos outros familiares.
Ao todo faleceram 5 pessoas, Sebastiana e 4 filhos, além do bebê que ela carregava no ventre. Sobreviveram Manoel e 3 filhos. Tempos após a tragédia Manoel se casou com sua cunhada, que o ajudou a criar seus três filhos sobreviventes.
Manoel faleceu em de 1966 aos 71 anos.
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